Paula Oliveira: Mais um talento português ao serviço do futebol internacional

13-02-2020

Quando se fala em portugueses que se destacam no futebol mundial, pensamos imediatamente em Cristiano Ronaldo ou José Mourinho.

Mas nem só de golos e títulos se constrói o sucesso internacional. Do Brasil ao Qatar, da Rússia a Angola, no Porto e em Londres, há uma portuguesa com um curriculum impressionante na área dos eventos desportivos.

Da Liga de Clubes até à FIFA, passando pelo Porto Convention Bureau, a carreira de Paula Oliveira tem sido feita sobretudo em eventos de grande dimensão, lidando com questões tão diversas como o protocolo, hospitality, gestão de acreditação, VIPs e até a logística. Em linguagem futebolística seria o que se chama uma jogadora de equipa bastante polivalente. Na área dos eventos, o melhor prémio é continuar a ser convocada para participar em grandes acontecimentos e é esse o dia‑a‑dia de Paula Oliveira.

Da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde estudou línguas, até ao Mundial de Clubes 2019, no Qatar, há um longo caminho.

Paula Oliveira explica como tudo começou: “O meu interesse pela organização de eventos começou no Porto Convention Bureau, uma associação sem fins lucrativos que foi criada pela Câmara Municipal do Porto e pelos principais stakeholders da cidade, cujo objetivo era promover o Porto e o Norte de Portugal como destino de turismo de negócios, congressos e viagens de incentivo”.

Foi nesta altura que, ao começar a organizar visitas educacionais para os mercados internacionais, sentiu despertar o gosto pela área. Mas seria em 2004, ano determinante para Portugal em termos de eventos desportivos, que a paixão se revelou totalmente.

“O meu interesse pelos eventos desportivos, e nomeadamente pelo futebol, começou com a organização do Euro 2004. Um grande evento internacional no meu país! Foram três anos de preparação e planeamento, de muito trabalho e dedicação por parte de uma equipa muito jovem e a maior parte de nós sem grande experiência! Ainda hoje, em todo o lado onde encontro colegas ligados ao futebol, continuam a dizer ‘EURO2004, BEST EVER!”, conta.

Paula Oliveira participou na organização do sorteio da fase de qualificação e de vários momentos importantes neste Campeonato Europeu ao longo dos três anos seguintes. Durante o Euro 2004, esteve sobretudo nos estádios do Dragão e do Bessa. E se este campeonato foi intenso para todos os portugueses, Paula Oliveira, nos bastidores, não viveu a prova com menos intensidade.

Na cerimónia de abertura e nos jogos, trabalhou para que jogadores, árbitros, público, convidados e jornalistas tivessem todas as condições necessárias para que o campeonato fosse bem‑sucedido.

Foi o momento decisivo que a levaria depois a eventos como o Circuito da Boavista, o WTCC, a presidência portuguesa da União Europeia e várias provas da UEFA e da FIFA, em Portugal e fora do país.

Os últimos anos foram passados a trabalhar na organização de eventos desportivos em Angola (CAN 2010), Polónia (Euro 2012), Brasil (Mundial 2014), França (Europeu 2016 e Mundial Feminino 2019), Rússia (Mundial 2018) e Qatar (Mundial de Clubes 2019 e Arabian Golf Cup 2019). Ao mesmo tempo, continuou a trabalhar em Portugal, em projetos como lançamentos do mercado automóvel, congressos, festivais e também na Liga Portuguesa de Futebol Profissional (2017‑2019).

O currículo impressiona mas, para Paula Oliveira, o maior feito foi “conhecer novos países, pessoas de países tão diferentes como Argentina, Austrália, Uruguai, México, Geórgia, Rússia, Qatar, Líbano, Egipto, Grécia, Alemanha e conseguirmos todos trabalhar juntos, criar uma equipa, às vezes com as dificuldades das línguas, e no final ficarmos orgulhosos do trabalho que realizámos”.

Assim, mais do que experiências no curriculum, conquistou memórias para toda a vida: “Os grandes eventos ficam sempre na memória de toda a gente e nós ficamos com amigos para toda a vida! O Euro 2004, a final do Mundial no Maracanã e, este ano, a Final do Mundial de Futebol Feminino foram momentos marcantes e emocionantes da minha experiência”, confessa.

A portuguesa já está habituada a grandes finais, a eventos vistos por milhões de pessoas e que custam muitos milhões de euros. A pressão, porém, parece ser esquecida, assim como o cansaço. “Sou uma apaixonada pelo meu trabalho! Adoro aquilo que faço! Trabalhar em eventos é não ter horários, não ter um dia igual ao outro, fazer viagens, andar 20 km por dia, conhecer pessoas novas, novos lugares, novas formas de trabalhar! Chegar ao fim de um evento e ver como esse evento fez a diferença na vida das pessoas e de quem nele participou, é uma grande sensação de orgulho pelo trabalho desenvolvido”.

Por isso, também não quer falar em eventos mais desafiantes do que outros. “Cada evento tem sempre a sua particularidade e exigência! Inovar, ser criativo e fazer sempre um evento que marque a diferença é um grande desafio”, sublinha.

A experiência no Qatar

No final de novembro, quando falou com a Event Point, Paula Oliveira estava a trabalhar com o Supreme Committee for Delivery and Legacy como Hospitality RES Specialist para a organização da 24ª edição da Arabian Golf Cup e para a organização do FIFA Club World Cup 2019, ambas no Qatar.

“Descrever um dia típico é muito difícil”, admite, exemplificando: “Quase nunca temos dias iguais na organização de um evento, principalmente numa fase de implementação. Quando as coisas correm bem, temos dias mais calmos, outras vezes são precisas horas extras de trabalho. Costumo dizer que um jogo de futebol começa às X horas do dia Y. As coisas têm que estar prontas de forma a que o jogo comece, os convidados e os espectadores entrem e as equipas estejam em campo. Acho que muito poucas pessoas têm noção do trabalho que está por trás da realização de um grande evento como um Europeu ou um Mundial. São muitas horas de dedicação e trabalho de uma grande equipa de áreas tão diferentes”.

A sua vasta experiência internacional faz com que possa olhar, de uma forma bastante analítica, para as diferenças entre a organização de eventos em Portugal e noutras partes do mundo. “Apesar de, em Portugal, as coisas terem mudado nos últimos anos, ainda continuamos a achar que qualquer um pode fazer eventos. Já existem muito boas empresas e que trabalham muito bem em diferentes áreas (montagem de tendas, digital, impressão, design) e não ficam nada atrás do que tenho visto em vários países. Nesta área, creio que temos que ser um pouco mais profissionais e levar a organização de eventos a sério, tirando partido da capacidade excecional que nós, portugueses, temos de fazer coisas bem‑feitas”. “A experiência no Qatar tem sido muito boa, mas acho que também aqui estão numa fase de aprendizagem para o Mundial de Futebol. Por isso estão a preparar‑se com todos estes eventos. É um país muito diferente, com uma cultura própria e uma forma de estar e trabalhar muito particular”, revela.

A possibilidade de lidar com todas estas diferenças culturais e organizacionais é, para Paula Oliveira, uma das maiores vantagens da sua atividade profissional. “É uma das coisas fantásticas de trabalhar em eventos internacionais em diferentes países. Nós temos a experiência, mas quando chegamos temos que nos adaptar a uma nova realidade, a uma nova cultura, uma nova forma de estar. Os eventos desportivos moldam‑se a cada país. Temos que nos adaptar ao país e não impor nada. Este é o lado enriquecedor de participar nestes eventos. Estou aqui há dois meses e sei que vou chegar a Portugal com uma grande aprendizagem sobre os países do Médio Oriente, pois tento sempre aprender a história, as tradições, a culinária, as pessoas dos países que nos acolhem. Nós temos o know‑how, mas eles têm o conhecimento local”.

A fórmula mágica dos portugueses

É quase um clichê, mas os portugueses são conhecidos pela forma como improvisam soluções e conseguem ter tudo a funcionar, mesmo que seja preciso trabalhar até ao último minuto. Será que Paula Oliveira partilha desta ideia? “Muito mesmo! Acho que é por isso mesmo que gostam de trabalhar connosco. O português consegue sempre encontrar uma solução e um caminho para resolver problemas. Nos eventos, há uma fase de planeamento, mas mesmo que o planeamento seja bem feito, acontecem sempre imprevistos pois estamos a lidar com pessoas e com situações de stress. Ao contrário de outras nacionalidades que bloqueiam perante um problema, nós encontramos aquela fórmula mágica de dar a volta de forma simples!”, elogia.

Já no que respeita às eventuais dificuldades de uma mulher em singrar numa área tão tradicionalmente masculina como o futebol, Paula Oliveira considera que “é uma ideia completamente ultrapassada hoje em dia”. “Nunca tive problema algum em trabalhar no futebol e sempre fui muito bem aceite pelos homens. As mulheres têm muito a dar ao futebol e creio que devia haver mais mulheres nesta área! Não digo que não haja exceções e já me aconteceu, mas quando percebem que sabemos do que estamos a falar, mudam logo de atitude! Mesmo aqui no Qatar, fui muito bem aceite por todos os colegas! Acho que posso dizer que os homens deste ‘mundo’ sabem que a mulher pode fazer a diferença e pode trazer novas formas de trabalhar para o futebol”.

Com tantos eventos realizados e tantas experiências somadas, qual foi o maior ensinamento que retirou? A resposta é perentória e prova que, em eventos para pouca gente ou para milhões de pessoas o princípio é o mesmo: “Aprender a ultrapassar os problemas em equipa e aprender a ser humilde e respeitar toda a gente. Num evento TODOS são importantes para o sucesso do nosso trabalho!”.

Olga Teixeira