Pesquisa da M&IT sobre Saúde Mental mostra um problema que requer mais atenção

03-05-2019

A pesquisa da Meetings & Incentive Travel (M&IT) sobre Saúde Mental traçou o retrato dos profissionais dos eventos, muitos deles com uma luta diária para se manterem à tona. Stress e pressão são palavras associadas ao sector e, segundo a pesquisa, muitos dos inquiridos (40%) não esconderam que, em determinado momento, sofreram ou foram diagnosticados com problemas mentais.

De acordo com a pesquisa da M&IT, mais de metade dos inquiridos disseram que a sua actual função era extremamente (20%) ou muito (32%) stressante; apenas 1% disse que não se sentiu stressado no trabalho; perto de metade (46%) disse que a sua actual função está mais stressante do que na mesma altura do ano anterior; apenas 12% dos inquiridos disseram pensar que a indústria estava a aceitar as pessoas com problemas mentais; 21% dos inquiridos disseram que o seu local de trabalho tem uma política formal sobre saúde mental; e mais de um em cada três (36%) disse que trabalhar na indústria dos eventos tem um efeito negativo na sua saúde mental.

Avança a M&IT que os resultados desta pesquisa acabam por reforçar o ranking da CareerCast relativamente aos trabalhos mais stressantes, que coloca a coordenação de eventos em quinto (2017 e 2018) e sexto (2019) lugares, sendo estes profissionais ultrapassados só por militares, bombeiros e pilotos, por exemplo.

“A exigência do trabalho imparável faz-me sentir a afogar. Eu sei nadar, mas os meus braços e pernas estão amarrados, pelo que não consigo nadar para me salvar…” – esta é apenas uma das respostas dadas na pesquisa. A M&IT apresenta outras:

 

Na sua função actual, que factores afectam a sua saúde mental?

“Há um tempo e uma data em que os eventos têm de se realizar, por isso há a pressão para se ter tudo pronto de forma a assegurar que o evento seja um sucesso. Isto tem impacto na saúde mental como resultado do stress envolvido.”

“Ser 100 por cento responsável por tudo – positivo ou negativo – e não ter horas suficientes no dia para acabar as minhas tarefas diárias significa a perda de apetite e de sono.”

“Os maiores factores que afectam a minha saúde mental são as exigências dos clientes e as suas expectativas, e uma carga maior de trabalho devido à saída de elementos da equipa que não são substituídos.”

“A pressão dos clientes para melhorar constantemente o serviço e/ou reduzir os custos é um factor.”

 

Que mudanças gostaria de ver no sector relativamente à saúde mental?

“Toda a gente precisa de olhar pela sua saúde mental da mesma forma que precisa de olhar pela sua saúde física. Precisamos de menos estigmas, de aceitar mais que esta é uma indústria com muita pressão e de admitir que sentirmo-nos stressados não nos faz mais fracos – apenas nos faz humanos.”

“Muitas vezes, as empresas dizem que estão cientes dos desafios da saúde mental dentro do sector, mas não têm nada para apoiá-la.”

“Algumas empresas esperam que trabalhes muito mais do que as horas para que foste contratado no sector dos eventos. Também deveríamos ser pagos pelas horas adicionais ou então ter esse tempo de volta. Devia ser inaceitável que as empresas explorem as pessoas dessa forma.”

“Os eventos são alta pressão, altos riscos. Se as pessoas não conseguem lidar com isso, então não vão durar e não recebem apoio a longo prazo. Eu gostaria de ver os gestores e a liderança sénior a apoiar os elementos da equipa quando as coisas ficam difíceis. Mostrem-lhes que está tudo bem e sejam abertos e honestos com as suas próprias experiências.”

 

A M&IT apresentou os resultados a alguns responsáveis na indústria, que deixaram os seus comentários. Para Jade Ball, directora de Operações da Top Banana, “as empresas seriam muito ingénuas se varressem para debaixo do tapete a importância das políticas formais de saúde mental. A saúde mental não vai a lado nenhum e a coisa mais importante que podemos fazer é dar às pessoas as ferramentas e os recursos para liderem com os seus problemas, num ambiente seguro, no qual se sintam confortáveis. Ao abordarmos a questão o mais cedo possível, podemos ajudar a prevenir as tensões físicas que andam de mãos dadas com os problemas de saúde mental.”

Por seu lado, Leigh Cowlishaw, membro da HBAA e directora de Propostas da Capita Travel and Events, considera “preocupante” que apenas 12% dos inquiridos sintam que a indústria dos eventos está a aceitar pessoas com problemas mentais. “A saúde mental não deveria ser um assunto tabu em nenhum sector e temos de deixar as pessoas saber que não há problema em falar sobre isso. Como sector, como empregadores e como indivíduos temos de nos apoiar uns aos outros.”

“No passado, sofri bastante de ansiedade no trabalho, por isso compreendo como isso pode ser incapacitante. Mas muitas pessoas não sabem o quanto isso pode afectar seriamente a saúde mental e física de alguém”, contou Chloe Modaberi, marketing manager do The Meetings Show, acrescentando: “A coisa mais importante que é preciso mudar é a aceitação e isso só pode ser alcançado educando as pessoas e falando sobre isso o mais abertamente possível. Tem de haver um ponto em que pomos as pessoas em primeiro lugar.”

Jane Longhurst, chief executive na Mia, referiu que, “da nossa pesquisa com o Roffey Park Institute, estamos todos muito conscientes que há mais trabalho a fazer. Descobrimos que a compaixão, a compreensão e a empatia não são dadas aos trabalhadores, porque demostrar essas emoções é visto como pouco profissional ou os colegas estão simplesmente muito ocupados”. E adiantou: “A nossa crescente dependência da tecnologia também foi considerada culpada, com o email a substituir o elemento humano que as reuniões cara-a-cara ou um telefonema proporcionam.”

Segundo Sarah Mayo, co-fundadora da Point3 Wellbeing, é necessário “dar prioridade” a tudo isto e “isso tem de ser conduzido do topo e incorporado na cultura” das organizações. “A natureza da nossa indústria não vai mudar – é alta pressão, é ao vivo, os prazos não podem ser alterados –, mas o que podemos mudar é a atitude relativamente à saúde mental e a consciencialização sobre a gestão dos efeitos do stress. As organizações precisam de dar às suas pessoas ferramentas e permissão para manterem e gerirem a sua saúde mental de forma contínua, para evitar um cenário de ‘panela de pressão’”, sublinhou.

Para Julia Phillips, managing director da Crescendo, “oestigma é ainda muito forte e, como sector, acredito que somos encorajados a ‘apenas lidar com isso’. Se pudermos mudar a forma como falamos sobre saúde mental e o apoio que oferecemos como empregadores aos nossos funcionários, espero conseguirmos um impacto positivo na taxa de ‘burnout’ que ainda é muito elevada.”

 

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