Quais as tendências em eventos para 2019?

03-06-2019

No início de cada ano somos bombardeados por matérias, discursos e entrevistas com especialistas sobre as tendências para o corrente ano e os próximos.

É assim em todos os setores, inclusive no de eventos e viagens corporativas.

Desde previsões apocalípticas de que alguns costumes e atividades corriqueiras têm os dias contados, até à ilusão de que de uma hora para a outra todos os players do setor estarão na mesma página em relação a determinados procedimentos, as matérias sobre tendências estão entre as mais lidas em qualquer sítio da internet, revistas ou jornais.

E no geral cada lista vem acompanhada por um número mágico, do tipo “As 10 principais tendências...” que é para aumentar a otimização nas buscas do Google.

Para 2019 não são poucas as tendências baseadas em palavras‑chave (para não dizer clichês) como Experiência, Sustentabilidade, Tecnologia, Inclusão, Colaboração e Inteligência Artificial, Ativação.

O que me pergunto sempre é quanto custaria um evento cujos organizadores e promotores se propusessem a colocar em prática senão todas, pelo menos uma boa parte das tendências listadas a cada novo ano. E onde estão os clientes dispostos a pagar por elas.

Ora, seja participando em pequenas reuniões e em médios e grandes eventos todos os meses, produzindo um evento proprietário ou idealizando eventos para clientes, sinto na pele a dificuldade de implementar as novidades mais corriqueiras a custos razoáveis, integrar novas tecnologias a procedimentos arraigados nos participantes, ou escolher um orador que ofereça um conteúdo atraente e de fácil implementação nas empresas.

Afinal, os eventos são vitrinas para networking e partilha de conhecimentos que devem ser colocados em prática e não apenas “emocionar” ou “motivar” os convidados nas poucas horas que dura o evento.

Aliás, garantir a presença efetiva dos convidados no evento já é um grande desafio. Notou, por exemplo, que o corpo de muitas pessoas está no evento, mas a cabeça delas está em outro lugar? Que ao menor sinal de enfado na palestra ou apresentação a plateia saca o telemóvel e entra num mundo paralelo? Percebeu como são raros os convidados que carregam cartões suficientes, deixando os seus interlocutores com a promessa de “enviar” os contactos depois, o que em geral só acontece se houver alguma possibilidade de obter algum lucro com aquele novo relacionamento?

Bem, voltando à tipologia dos eventos, falemos sobre Tecnologia. Pelas minhas contas ela ocupa a primeira posição entre as “próximas” tendências há pelo menos uns cinco anos. Check‑in eletrónico, plataformas de reservas e pagamentos, ativação com leitor de código de barras, reconhecimento facial, realidade aumentada.

Mas quanto custa tudo isso? Qual cliente quer fazer um investimento dessa monta se quando vê a primeira planilha já vai logo cortando café, sumo, pessoal de segurança ou metade das rececionistas?

E as aplicações, então? Dos eventos que participou recentemente e que tinham aplicações customizadas, quais baixou e efetivamente usou? E ainda, quantas vezes usou o app para interagir com os outros participantes, enviar perguntas aos oradores, saber antecipadamente quem seriam os seus colegas na plateia ou com quem poderia marcar um encontro?

O facto é que nós, seres humanos, somos estranhos. Relacionamo‑nos com as tendências e novidades de formas diferentes e isso precisa de ser levado em conta pelos meeting planners.

Por exemplo, hoje ninguém mais quer fazer um evento apenas. Todos desejam “proporcionar experiências”. No entanto, experiências têm significados e sentidos diferentes para cada público. Daí a importância de saber identificar primeiramente quem são os convidados do evento, com que propósito vão estar ali, de onde vêm, a que tribos pertencem, que anseios e fantasias têm, quais são os seus hábitos e preferências no dia‑a‑dia. Para então uniformizar a criatividade e adequar a oferta de tendências ao perfil dos participantes.

É necessário pensar também se o modelo ou tendências a serem adotados combinam com a marca, instituição ou mesmo o patrocinador do evento. Porque se não houver conexão, não haverá eco. E aí a falta de retorno sobre o investimento vai ser a única tendência.

Rose de Almeida, Jornalista, escritora, blogger, publisher do portal Mice Business www.micebusiness.com.br.