Um dia no Caminho de Santiago

11-05-2017

A Portugal Green Walks dá a oportunidade de experimentar um dia no mítico Caminho de Santiago.

A Portugal Green Walks dá a oportunidade de experimentar um dia no mítico Caminho de Santiago. Uma ideia para programas paralelos de congressos ou eventos que se realizem no Norte de Portugal.

O Caminho

Há centenas de anos que os peregrinos percorrem os diversos caminhos que levam a Santiago de Compostela “seguindo” as pisadas do apóstolo Santiago Maior, cujo sepulcro se encontra na Catedral da cidade galega. A peregrinação foi uma das mais concorridas na Idade Média, caiu depois no esquecimento, e desde os anos 80 do século XX ganhou redobrada popularidade. Em 2016, a Oficina dos Peregrinos recebeu 278.224 peregrinos, 55% com idades compreendidas entre os 30 e os 60 anos, sendo que 91% fizeram o Caminho a pé. Os restantes fizeram‑no ou de bicicleta, a cavalo ou e em cadeira de rodas.

Pela experiência de Paulo Lopes, director da Portugal Green Walks, as motivações para fazer o Caminho são as mais variadas e essa é justamente “a sua riqueza”. “Enquanto que para Fátima há uma motivação religiosa bastante vincada, quem faz o Caminho para Santiago vai com um espírito mais universalista”, refere o responsável. Há quem faça a jornada numa perspectiva turística e cultural, mas também quem o faça “por uma questão pessoal, introspectiva, alguém que quer mudar de vida, mudar de emprego, e o Caminho pode ser um ponto de paragem e reflexão”. Há quem encare tudo isto como um desafio de superação e, claro, há as motivações religiosas, presentes muito nos peregrinos da América Latina e dos Estados Unidos. “Há outros que não entram tanto no nosso segmento, mas são aqueles que querem ter a experiência do verdadeiro peregrino: levar a mochila às costas, ficar nos albergues, e sentir todo aquele ambiente. O nosso cliente quer um pouco mais de conforto”, explica Paulo Lopes.

O produto da Portugal Green Walks

O produto Caminho de Santiago na Portugal Green Walks é sobretudo procurado por estrangeiros, o cliente português é praticamente residual. O mercado americano é extremamente forte, enquanto que na Europa, sobressaem os mercados alemão, holandês e belga. Maioritariamente, tratam‑se de reformados, ou na casa dos 50, pessoas que gostam de andar. Esta é uma actividade que tem picos. “É sazonal por causa do clima. Por exemplo, a partir de Novembro os dias são muito pequenos, começa a ficar frio e chove. E na altura do inverno, se começa a chover os percursos podem ficar alagados. Entre Novembro e Março são poucos os que se aventuram nisto”. O pico é mesmo durante os meses de Maio, Junho, Setembro e Outubro.

A Portugal Green Walks, além de todo o apoio logístico, fornece um roadbook, com um conjunto de informações prévias, que podem ser muito úteis ao peregrino: o que levar, tipo de calçado, preparação física, etc. “Os clientes estrangeiros preparam isto com vários meses de antecedência”, sublinha Paulo Lopes. O responsável não esconde, “este é um produto complexo, uma vez que exige conhecer muito bem o território. Não se trata apenas de vender o percurso, temos de estar sempre disponíveis para dar assistência ao peregrino”. A logística também é pesada e não pode ter qualquer falha.

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Um dia de vivência no Caminho

A Portugal Green Walks dispõe de um programa em que se pode vivenciar um dia num trecho do Caminho de Santiago. Esse trecho é um dos mais interessantes, segundo Paulo Lopes. “É aquele que vai de Ponte de Lima a Rubiães, porque tem uma série de simbologias, trata‑se de uma zona rural, com a rota a passar pelo meio de vinhas, das aldeias”. Mas não se pense que por ser só um dia, não é exigente. “É necessária alguma preparação física porque tem a Serra da Labruja pelo meio, que é só a parte mais complicada de todo o Caminho entre o Porto e Santiago”. Mas o programa é flexível. “Quando entendemos que o grupo não consegue fazer esse, fazemos um pedaço mais curto, ou ficamos no sopé e não se sobe a serra. Ou então começamos em Vitorino Piães e fazemos até Ponte de Lima”, esclarece o líder da Portugal Green Walks.

Trabalhar grupos

“Parece-me que há aqui espaço para trabalhar grupos no Caminho”, refere Paulo Lopes, detalhando, “Há um tempo ideal para absorver a mensagem, reflectir e partilhar. Este caminhar durante vários dias, esta mistura do esforço físico com o desprendimento mental, faz com que as pessoas estejam mais receptivas”. Neste caso, a Portugal Green Walks pode fornecer toda a logística, “mas a dinamização do grupo terá que ficar a cargo de um especialista”.

A empresa

Começou por se chamar Oficina da Natureza e nasceu em 2005, com a liderança de Paulo Lopes. O projecto inicial era dirigido ao mercado português e resumia‑se a programas de fim‑de‑semana e experiências. A partir de 2008, com a crise, Paulo Lopes decide fazer uma inversão na estratégia e começar a olhar para o mercado internacional. A empresa muda então de nome para Portugal Green Walks. Paralelamente, houve uma mudança nos regimes de animação turística, e as empresas do sector puderam requerer o estatuto de agências de viagem. “Devo ter sido o segundo a requerer esse estatuto”. A especialização no Caminho de Santiago surgiu naturalmente. Paulo Lopes já tinha feito o Caminho uns anos antes, e juntamente com um amigo que fazia a rota com grupos, decidiu elaborar um programa. Hoje, além do Caminho Central, a Portugal Green Walks dispõe de programas com o Caminho da Costa, sendo uma referência a nível nacional.

Uma história incrível de superação

Das muitas histórias especiais que Paulo Lopes viveu desde que começou com os programas no Caminho de Santiago, uma salta‑lhe logo à mente. Aconteceu no ano passado. A empresa foi contactada por uma americana, em cadeira de rodas, e num processo degenerativo acentuado. O sonho dessa senhora era fazer o Caminho antes de morrer. “Dissemos que sim”, conta Paulo Lopes. Depois seguiu‑se um intenso trabalho de inspecção de todos os hotéis, que tinham de estar adaptados à cliente de cadeira de rodas. “Tivemos que arranjar duas pessoas para a acompanhar em permanência, muitas vezes para a empurrar”. A americana demorou um mês a fazer o Caminho. “Foi algo que me tocou muito fundo”.

Cláudia Coutinho de Sousa