Um “incentivo” para trabalhar: comboios, cervejas e cidades históricas

14-02-2020

# tags: Europa , MICE , Eurovisão , Incentivos , Eventos , Destinos , Viagens

A Eurovisão vai chegar a Roterdão em 2020. Um evento ideal para uma cidade que é vista como uma das mais cool da Europa.

O facto da Eurovisão ir tomar conta do “Rotterdam Ahoy”, um venue que vai abrir as suas portas em 2020, é também um reflexo da expansão rápida da cidade como destino para reuniões e eventos.

Uma coisa é certa, haverá um clamor por ideias para incentivos antes, durante, e depois da Eurovisão e a emergência de Roterdão e da Europa enquanto especialistas de cerveja artesanal vai ajudar a potenciar novas oportunidades, novas inaugurações e bares lotados.

O facto do Eurostar agora operar um serviço direto de Londres até Roterdão, significa que a ferrovia vai ter um papel significativo no transporte dos superfãs da Eurovisão, mas também é uma alternativa para organizadores de incentivos que estão à procura de oferecer aos clientes uma forma cénica, sustentável e relaxada de corporate team building e bonding, e ao mesmo tempo indo de encontro às expetativas do trabalhador Millennial e da Geração Z. Uma ideia de incentivo pode ser uma hopping tour de comboio pelas cervejarias, usando o passe “Interrail”, e começando precisamente nesta cidade holandesa.

O que é interessante é que o Interrail, que desde a sua criação em 1972 era exclusivo para jovens viajantes, está agora aberto a todas as idades e é uma excelente opção para quem quer viajar com um tema. O passe permite criar incentivos super flexíveis e inovadores, oferecendo diversas possibilidades de duração, começando por três dias, até a um mês, de forma a ir de encontro às necessidades do cliente. Numa viagem recente, explorei quatro das cidades europeias mais ligadas à cerveja e às cervejarias, numa descoberta dos mais entusiasmantes programas que podem ser criados para team buildings e incentivos.

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A De Hoorn Brewery, Leuven

Roterdão reciclado

Roterdão tem uma cultura de cerveja artesanal emergente, que casa perfeitamente com a descrição da cidade enquanto “laboratório vivo”, um local de inovação urbana, sustentabilidade e experimentação. Exemplo disso é o “Vet & Lazy”, uma fábrica de cerveja artesanal, localizada nas entranhas da “Tropicana”, um antigo complexo de piscinas subtropical, que hoje lidera a economia circular da cidade. A fábrica promove iniciativas sustentáveis, incluindo a criação de uma cerveja residual fabricada a partir de grãos de café do bar orgânico “Aloha Bar”, também localizado na Tropicana.

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A arquitectura icónica da Estação Central de Roterdão

A partir daqui, uma pequena viagem de táxi de água no rio Mass leva‑nos até ao jovem mestre de cerveja, Jazze Post. A operar na “Thoms Stadsbrouwerij” (cervejaria), localizada dentro das muralhas da cidade, Post refere: “temos a Thoms Pilsner, Pale Ale e a IPA e estas cervejas vêm diretamente dos tanques que estão em cima do bar, e o sabor único advém do facto de serem não pasteurizadas e não filtradas. As nossas mesas self service são muito populares, especialmente durante os eventos da Oktoberfest”, diz, apontando para o tamanho do mais comprido bar de Roterdão.

A diversificada visita a Roterdão incluiu um jantar no popular “De Matroos”, antes de partir da monumental “Centraal Station”. Do comboio observam‑se os parques eólicos e a vida suburbana, e rapidamente cruzamos a fronteira belga para chegar finalmente a Leuven.

Leuven – A capital belga da cerveja

Leuven é conhecida como a “capital da cerveja”. Um local onde a cultura cervejeira e a universidade fazem parte do tecido da cidade. Os tentáculos da Katholieke Universiteit Leuven espalham‑se por quase todos os aspetos da vida, incluindo na investigação da ciência na base da cerveja, usando como parte do campus o conjunto de edifícios “Great Beguinage”, do século XIII, que chegou a ser uma comunidade fechada de mulheres devotas, e hoje é um local classificado pela UNESCO. Inserido na universidade está também o KU Leuven Insititute for Beer Research.

Durante um período de três semanas em abril, Leuven abre as portas a uma série de tours de cerveja, provas e visitas a fábricas.

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Micro-cervejaria Hof Ten Dormaal, Leuven

A cidade é conhecida pela sua cerveja excelente e recebe grande parte das cervejas inovadoras e artesanais da Bélgica, utilizando um venue inigualável na fábrica histórica De Hoorn, onde antes se produzia a Stella Artois. O primeiro evento é o “Leuven Beer Innovation Festival”, uma plataforma para cervejas tradicionais inovadoras. A este segue‑se o “Food and Hops”, com tours em volta da cerveja, e culminando no “Zythos Beer Festival”, o maior festival de cerveja da Flandres e imperdível para qualquer fã de cerveja, que assim tem a oportunidade de explorar mais de cem cervejarias, que produzem mais de 500 tipos de cerveja.

Estudante + cerveja foi sempre uma fórmula ganhadora. Leuven comprova esta equação, com a mais antiga universidade belga, que data de 1425, e a maior empresa de cervejas, a “AB inBev”, produtora da Stella Artois. A propósito, uma visita a esta fábrica permite perceber a grandiosa operação que está ali em marcha. A vibrante e jovem Leuven é enquadrada por edifícios históricos. Percorrendo a artéria principal que sai da estação de comboios, chegamos ao Grote Mark (praça principal), ao “Oude Markt”, e à biblioteca da universidade em Ladeuzelplein. Filas e filas de bicicletas cruzavam o Grote Markt em frente a duas esculturas, a igreja gótica do século XV St. Peter, e o espetacular edifício “Stadhuis” (Câmara Municipal).

Repleto de bares, e conhecido como “o mais comprido bar da Europa”, o Oude Markt é conhecido pelos frontões de estilo flamengo, pelos edifícios da KU Leuven, pelos quais todos os estudantes passaram, e pela biblioteca de estilo flamengo e renascentista, um outro local imperdível para os estudantes.

Já um pouco fora da zona mais antiga de Leuven fica a “Vaartkom & Sluisstraat”, um antigo distrito industrial que foi transformado e regenerado, tendo como centro o edifício da antiga cervejaria “Brouwerij De Hoorn”, onde em 1926 a primeira Stella Artois foi produzida. A linhagem da cervejaria remonta a 1366, antes de Sebastian Artois assumir o cargo de mestre cervejeiro em 1708.

É perto de Vaartkom que a Stella Artois moderna é hoje “bombeada” para mais de 80 países e é possível fazer tours, sendo que o mesmo acontece em micro‑cervejarias artesanais nos arredores da cidade. A nossa visita ao “Hof Ten Dormaal”, uma cervejaria/quinta familiar, onde cultivam os próprios grãos e lúpulo, antes de os transformar numa emocionante variedade de cervejas artesanais, foi uma viagem liderada por Jef Jansses, o mestre cervejeiro. Jansses não hesita: “não temos medo de experimentar”, enquanto colocava em cima da mesa uma cerveja de “cânhamo” chamada “Summer of 67”, e uma edição limitada da Belgian Blond Ale 12%, envelhecida em barris de Jura [whisky], deixando à mostra o braço todo tatuado.

Nuremberga – Túneis e cerveja vermelha

Nuremberga é uma cidade MICE impressionante. Alberga mais de 120 feiras nacionais e internacionais, que recebem mais de 35 mil expositores, e mais um milhão e meio de visitantes (26% deles estrangeiros). Algumas das mais importantes são a Feira dos Brinquedos, a BioFach (produtos orgânicos), a It‑sa (segurança informática), FachPack (packaging), a BrauBievale (feira da cerveja).

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A simpatia da Fiscal

O Nuremberg International Congress tem um novo pavilhão, o “3C”, desenhado pelo grande Zaha Hadid que ajuda a consolidar o fluxo de delegados. 70% de todas as pernoitas são relacionadas com negócios, sejam visitas a feiras, congressos ou viagens de negócios. Por isso, há uma grande necessidade de explorar, compreender e experienciar a cidade, e uma dessas formas é debaixo do solo, nos históricos túneis da cerveja.

“A cerveja salvou‑nos!” Este era o sentimento dos habitantes de Nuremberga que sobreviveram aos bombardeamentos aliados durante a II Guerra Mundial, refugiando‑se nos celeiros de cerveja subterrâneos do século XIII, que levaram 400 anos a completar. Esta não foi a única vez que a cerveja foi vista como salvadora, uma vez que muitas vezes substituiu a água não potável na Idade Média.

As paredes de arenito vermelho que se encontram ainda marcadas pelos escavadores e as placas fluorescentes, que brilham no escuro, iluminando as saídas do período da Segunda Guerra Mundial, assim como as leis de pureza de fabricação de cerveja de 1303, decretadas pelo conselho de Nuremberg, ainda hoje caracterizam a cidade.

A nossa descida começou mesmo atrás da estátua de Albrecht Dürer que, assim como a casa onde viveu o pintor, datada do século XVI, sobreviveu intacta à II Guerra Mundial. A rede de túneis tem quilómetros e passa por exemplo por baixo do Castelo, um dos mais importantes palácios reais do Sagrado Império Romano, e que é um dos locais mais fotogénicos de Nuremberga. A tour terminou quando emergimos, com os olhos ainda a habituarem‑se à luz do dia, no pátio da cervejaria “Hausbrauerei Altstadthof”, para provarmos a maltada Rotbier (cerveja vermelha) e o whiskey single malt (feito de cerveja destilada).

Depois de passarmos a fronteira de florestas de pinheiros entre a Alemanha e a República Checa, chegamos ao nosso último destino: Pilsen.

Pilsen – Cerveja em cima e debaixo do solo

No topo da torre sineira da Igreja de São Bartolomeu na Namesti Republiky (Praça da República), percebe‑se a história, herança e indústria presente na manta de retalhos dos telhados, de onde se vislumbra desde as chaminés sinuosas que representam a atual indústria da Pilsen e a mundialmente famosa fábrica de cerveja Pilsner ‘Pilsner Urquell’. Outros edifícios notáveis incluem a Grande Sinagoga, num elaborado estilo romanesco e mourisco, e os frescos renascentistas presentes na fachada da velha câmara municipal.

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Câmara Municipal de Pilsen 

Tal como em Nuremberga, a história de Pilsen tem uma dimensão subterrânea, com quilómetro de túneis abobadados do século XIV, acessíveis pelo Pilsner Historical Underground Museum. Depois do portão de ferro forjado ser fechado, vêmo‑nos de novo atrás do nosso guia, a serpentear os túneis, enquanto ele explicava alguns achados medievais e dava conta dos poços de água, que durante um período chegaram a ser mais de 300.

Esses túneis teriam ligação, em algum momento, com as adegas de cerveja da nossa próxima paragem, a “Pilsner Urquell Brewery”, a vários quilômetros de distância, e que foi fundada em 1839 sob a administração do mestre cervejeiro bávaro Josef Groll, que criou a primeira Pilsner‑lager, em 1842. Isto tudo foi explicado maravilhosamente durante a nossa tour à cervejaria, enquanto descíamos ao complexo de celeiros, e nos servíamos da nossa própria Pilsner diretamente dos barris de carvalho.

No país que consome mais cerveja per capita do mundo, a possibilidade de banharmo‑nos na “Purkmistr microbrewery”, nos arredores de Pilsen, não constituiu uma surpresa. Talvez este seja “O” incentivo para muitos e uma maneira ajustada de terminar esta viagem de comboio. Ser submergido em litros e litros de cerveja não pasteurizada e não filtrada, misturada com água com lúpulo triturado e levedura de cerveja, propicia a circulação sanguínea e a nutrição da pele. A única torneira associada ao banho, era aquela que permitia encher o copo de cerveja.

Estas ideias podem ajudar os organizadores de eventos a pensar num tema e numa jornada via Interrail. Com um acesso a 31 países europeus, o único limite é a imaginação.

Mais informações:

Interrail ‑ www.interrail.eu

Rotterdamandpartners – www.rotterdampartners.nl

Visit Leuven ‑ www.visitleuven.be

Visit Nuremberg ‑ www.tourismus.nuernberg.de

Visit Pilsen ‑ www.pilsen.eu/en/tourist

Fotos: Ramy Salameh 

 

© Ramy Salameh Redação

Correspondente em Londres