Vai nascer em Viseu a maior sala de espectáculos do centro de Portugal. Porquê? Para quê?

14-02-2018

A criação do VISEU ARENA é muito mais do que – ou não é sequer ‑ um projecto de hardware.

A criação em Viseu da maior sala de espectáculos do Centro de Portugal integra‑se numa estratégia. Uma estratégia de desenvolvimento regional ou, por outras palavras, de criação de uma marca cultural e turística de excelência. Neste sentido, estamos mais a falar de software ou brainware.

A infra‑estrutura é aqui uma condição de contexto, um instrumento, não um fim em si mesmo. Tanto mais que neste caso se trata de uma intervenção de requalificação, restyling e upgrade técnico de uma infra‑estrutura pré‑existente: o pavilhão multiusos da cidade, construído em 2003.

Este é, todavia, um instrumento tanto mais importante quanto vem preencher uma lacuna do ponto de vista regional: no Centro do país não existe uma grande sala de espectáculo qualificada e licenciada, com uma vocação multiusos, para mais de 1000 pessoas. Por outro lado, Viseu vive hoje um crescimento cultural e uma redescoberta turística que não é compatível com a escassez de equipamentos desta natureza.

O projecto não é pois movido pela obsessão do betão. O que move a parceria, constituída pelo Município, a VISEU MARCA (a associação de marketing territorial da cidade) e a sociedade Arena, são objectivos de descentralização cultural do país, a inserção de Viseu no roteiro nacional e ibérico da oferta de espectáculos, o reforço da atractividade turística da cidade‑região e o fomento de indústrias criativas e culturais.

O projecto valoriza e tira ainda partido da localização estratégica de Viseu no país e na Península e na sua rede de conectividade, a sua dimensão demográfica relevante, o seu estatuto histórico e patrimonial, mas também o seu ecossistema humano, criativo e artístico.

Com efeito, Viseu é hoje uma cidade histórica com 2500 anos, anterior à própria fundação da nacionalidade portuguesa, e o mais importante concelho do país no Interior (ou se quisermos fora do eixo Braga – Setúbal), com 100 mil habitantes. É também uma referência no seu padrão de qualidade de vida, ostentando o selo de “Melhor Cidade para Viver”. Para além disso, conta com um stock de recursos patrimoniais, rurais e naturais extraordinários, e de competências empresariais, criativas e culturais muito promissor.

Finalmente, a centralidade geográfica da cidade, a sua proximidade ao Porto e as suas ligações privilegiadas, a menos de uma ou duas horas de distância, de uma constelação de cidades como Aveiro, Guarda, Lamego, Vila Real, Chaves, Coimbra, Leiria, Fátima, mas também Salamanca e Cidade Rodrigo, tornam Viseu um destino com potencial de atracção para uma população alvo muito superior a cinco milhões de habitantes e turistas.

É neste contexto de oportunidade – acentuado pela evidente saturação dos grandes destinos turísticos nacionais – que surge o projecto “VISEU ARENA”, idealizado por um autarca da nova geração, Almeida Henriques, o actual presidente da Câmara de Viseu.

Com entrada em funcionamento prevista até ao final de 2018, esta será a maior sala de espectáculos e recinto multiusos do Centro de Portugal, com uma capacidade superior a 5500 espectadores e uma arena de 2500 metros quadrados. Face às estimativas iniciais, a capacidade da sala para uma plateia em pé aumenta mais de 1500 lugares.

No projecto de reconversão e requalificação assinado pelo arquitecto Moisés Rosa, elemento da equipa da Arena Atlântico, procurou‑se salvaguardar a flexibilidade do equipamento para todas as tipologias e escalas de eventos – ou seja, uma vocação verdadeiramente multiusos –, assim como uma elevada qualidade nos planos hospitalidade e conforto dos públicos, acústica, estética, funcionalidade e segurança. A sustentabilidade económica do projecto e a qualidade superior do espaço são encaradas condições sine qua non de sucesso.

O envolvimento fundamental da Sociedade Arena Atlântico, com um elevado know‑how de gestão e exploração deste tipo de equipamentos, concorre também para esta estratégia de sustentabilidade. A sua participação centra‑se não apenas ao nível do projeto de requalificação do espaço, como também no desenho do modelo de negócio e no apoio à VISEU MARCA (o futuro gestor local) na estratégia de marketing e futura angariação comercial.

Algumas das novidades respeitam à incorporação de ecrãs e de uma cortina de luz na fachada do equipamento, para um diálogo com a cidade, à criação de novas zonas de público (uma tribuna suspensa, 14 camarotes e 680 premium seats) e à instalação de 5 bares e de um lounge panorâmico para a cidade com vocação para catering e eventos premium.

Pondo de parte uma certa modéstia tipicamente portuguesa, não tenho dúvidas em afirmar que Viseu está hoje a constituir‑se como um caso de estudo muito interessante na óptica de um turismo cultural sustentável e do marketing territorial. Um marketing e um turismo que, voltados para a captação de públicos, visitantes e actividades, elegem como principal factor de diferenciação a própria comunidade e a sua identidade.

Nessa estratégia sobressai a combinatória poderosa de atributos, experiências e imaginários da cidade – diversos, mas bem posicionados.

Nesse mix estão, simultaneamente, a “cidade de Viriato” e o seu forte charme patrimonial material e imaterial, a “cidade‑jardim” que exprime simultaneamente uma estética e uma ética urbanas, a “cidade vinhateira” do Dão, a secular Feira de São Mateus (que em 2017 consolidou a sua revitalização) e uma agenda quase non stop de oferta cultural diversificada.

O fio que une esta multidimensionalidade é uma promessa real de felicidade. Hoje sabemos que não é preciso ir longe para ter uma experiência inesquecível.

 

Jorge Sobrado, Gestor da Viseu Marca