Vida de eventos: Sónia Brochado

14-08-2020

Sónia Brochado, da Btrust, não deixa margem para dúvidas quanto à importância dos eventos na sua vida: “A área de eventos vive comigo há muitos anos”, diz, admitindo assim que, mais do que uma atividade, esta é uma forma de vida.

No seu caso, tudo começou quando era dirigente associativa na faculdade, tendo organizado vários eventos nacionais e internacionais pela AIESEC. Mais tarde, quando já era consultora de marketing freelancer, sentia que lhe faltava algo. Até que a Universidade de Aveiro a convidou para falar num painel sobre a geração dos 30 e as suas aprendizagens: “Ao preparar‑me fiz um exercício sobre o que me faltava para acordar todos os dias com muita energia e ter um brilho constante no olhar.

Apercebi‑me de que tinha três grandes paixões: as pessoas e o seu potencial de crescimento humano e profissional, os eventos e a possibilidade de fazer as pessoas felizes através dos eventos e ativações, e o espírito de cooperação entre empresas”, conta. O passo seguinte foi passar o projeto para um Powerpoint e apresenta‑lo a alguns amigos e clientes da altura: “Dessa apresentação surgiram os primeiros clientes da Btrust, que estão connosco até hoje”.

A motivação surge através dos desafios lançados pelos clientes e do facto de “trabalhar com pessoas inspiradoras, exigentes e incríveis, que querem tornar este mundo melhor”: “Motiva‑me ver o sorriso das nossas equipas e ver a forma como as pessoas se transformam de lagartas a lindas borboletas. Motiva‑me sentir que os clientes são exigentes e esperam de nós um serviço de excelência. Motiva‑me muito o facto de termos sempre os percursos em aberto, em que o inesperado acontece a qualquer momento. Motiva‑me muito contribuir para a cooperação entre várias empresas, mesmo que concorrentes, mas que podem crescer juntas. Acredito que a união faz a força”.

Tal como acontece com outros profissionais com quem falámos, a adrenalina e o facto de todos os dias serem diferentes são as duas coisas de que mais gosta nesta atividade, mas não as únicas: “Adoro o facto de sentir que temos um impacto positivo na vida das pessoas nacional e internacionalmente e que o espírito de união e cumplicidade é único. Gosto muito de acordar de manhã e saber que o dia me vai surpreender de alguma forma!”.

Conciliar trabalho e família

Escolher algo de que não goste é mais difícil. Prefere falar em “desafios” que aceita de bom grado, mas que acabam por condicionar um pouco a sua vida: “O facto de trabalharmos praticamente sete dias por semana, 365 dias ao ano e muitas vezes quase 24 horas. Tenho uma equipa incrível, de confiança e dedicada, mas custa‑me não conseguir estar atualmente em todos os eventos que organizamos, porque quero ser uma mãe presente e porque é impossível estar em todos. O que me custou mais durante estes nove anos foi aceitar que tinha que passar de operacional, de estar no terreno com a equipa, a ser líder de uma empresa”.

O crescimento da empresa a isso obrigou e, hoje em dia, Sónia Brochado já encara como “inevitável ter que assumir outras funções na empresa, diferentes das que tinha no momento de arranque”.

Desafiada a escolher uma memória relacionada com o seu trabalho, recorda o primeiro grande evento internacional em Paris: “Tivemos que recrutar e formar uma equipa de aproximadamente 40 pessoas, idealmente brasileiras e residentes em Paris, num tempo recorde”.

Foi um momento de viragem: “Passámos de uma agência nacional para uma agência internacional de apoio à produção de feiras, pois colaboramos na resolução de vários desafios de produção, como por exemplo comprar cápsulas para café em grande quantidade num domingo, em Paris, quando está tudo fechado. Parece algo simples, mas quando queremos muito que tudo seja perfeito para o cliente e estamos fora da nossa zona de conforto, que é o nosso país, os pequenos detalhes é que constroem relações para a vida”.

Entre os momentos mais engraçados – e confessa que é difícil escolher só um – está um que ocorreu durante um evento que aconteceu em Lisboa para a Cartier Internacional: “Tivemos de encontrar, em menos de três horas, uma massagista que fosse obesa para um dos melhores clientes da Cartier Internacional. Na altura pareceu‑nos algo incorreto, mas a indicação que tínhamos é que devíamos resolver tudo sem limitações de orçamento. A nossa equipa conseguiu e soubemos que a razão era que o cliente era japonês e estava habituado a uma massagista com essas características e que adorava o trabalho dela”.

Já no que diz respeito a situações em que algo poderia ter corrido menos bem, elege um que ocorreu nos primeiros tempos da empresa: “Tivemos várias ações de ativação de marca a nível nacional para uma marca de telecomunicações e chegámos a ter 300.000 euros em equipamentos móveis que oferecíamos nas universidades. Na altura não fizemos nenhum seguro de equipamentos e tivemos que montar um sistema de logística complexo em que tínhamos 150 pessoas a trabalhar durante a semana em todos o país e conseguíamos saber ao detalhe e ao dia quem tinha que equipamento, quando tinha sido entregue ao cliente e quantos tinha em stock. Foram momentos únicos de grande crescimento profissional e humano, mas não tínhamos, de todo, a noção do risco que corríamos”, confessa.

 

Olga Teixeira