< Previous30 EVENT POINT | GRANDE ENTREVISTA Já tocou em alguns pontos, no- meadamente a velocidade, a atratividade do próprio destino, mas quais é que são, de facto, as grandes mudanças que consegue encontrar entre o que era quando começou e o que é hoje a indús- tria em Portugal? Tecnologia, definitivamente, é uma grande mudança que alte- rou radicalmente o setor. Outra grande mudança, a própria audiência dos eventos. Há muitos anos, o tipo de audiên- cia de eventos era uma, hoje o formato da audiência de even- tos é completamente diferente. No sentido em que, no passado, a maioria dos eventos eram eventos comemorativos de empresa ou eram reuniões comerciais. Elas continuam a existir, mas entramos num capítulo muito mais de expe- riências, de envolvimento com marcas, portanto, os eventos caminharam para se tornar, não apenas mais uma ferra-31 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 menta do marketing, mas uma ferramenta que permite criar ligações. E isso mudou bastante o panorama dos eventos hoje. Por outro lado, também toda a envolvente do mercado e refor- ço isso. Acho que Portugal se tornou cada vez mais um desti- no no mapa e isso também ajudou a impulsionar muitos eventos nos últimos anos. E, por último, a nossa capacidade de adaptação em termos de mercado. Tendo em conta tudo o que se fez durante uma pan- demia e tudo o que tem aconte- cido em termos de situações socioeconómicas nos últimos anos, é de louvar como as em- presas se adaptam e como conseguimos levar as coisas para a frente e ninguém fica parado. Eu acho que isso é bom. E relativamente ao tipo de relacio- namento que se estabelece entre fornecedores, agências, clientes, as coisas estão melhores, piores? Não acho que as coisas estejam piores, acho que as coisas estão diferentes, no sentido em que, há muitos anos, havia meia dúzia de referência de suppliers para determinados serviços, fosse catering, fosse decoração, ou seja, havia as grandes em- presas e depois não havia assim muito mais. Hoje em dia, existe um universo e um leque de fornecedores muito maior. Inclusive não só fornecedores nacionais, muitas vezes traba- lhamos com fornecedores que vêm de fora porque têm alguma coisa de que nós precisamos. Para mim, o que mudou foi a facilidade de chegar a esses fornecedores, ou seja, com a tecnologia a ajudar, a facilidade 32 EVENT POINT | GRANDE ENTREVISTA33 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 que temos hoje tem de chegar, agendar uma reunião, falar com um fornecedor em tempo real, que está no outro lado do mundo, tudo isso veio impul- sionar e criar uma dinâmica muito interessante no mercado. Acho que não existem melhores nem piores fornecedores, exis- tem bons ou maus fornecedo- res. As agências podem sempre trabalhar com os bons. Conti- nua a haver muito um espírito de parceria com aqueles forne- cedores que são os fornecedo- res-chave, e acredito que todas as agências tenham esse tipo de relacionamento, mas para mim o que mudou muito foi, de facto, esta abertura e este leque enorme que temos hoje e a facilidade que temos de ver coisas novas, de chegar a forne- cedores novos, de testar produ- tos novos. E a relação com o cliente? É mais saudável, é menos? A relação com o cliente é mais dinâmica (sorriso). No nosso caso, trabalhamos muito com empresas multinacionais, temos que estar sempre on top of the game, chamemos-lhe assim, no sentido em que não basta dizer que organizamos eventos, ou seja, se o cliente está a recorrer à agência de eventos, quer que o evento corra bem e ponto, vê-nos como especialistas e como profissionais. Mas, a par disso, surgiram nos últimos anos muito mais desafios. Surgiu o desafio da sustentabilidade, da tecnologia, agora surge o desa- fio da Inteligência Artificial, do contexto económico, ou seja, vai muito além dos eventos. O que tem acontecido é que temos de nos adaptar a tudo o que são estes novos desafios que têm surgido e que, cada vez mais, não podem ficar à parte dos eventos, ou seja, cada vez mais são exigidos fatores como Surgiu o desafio da sustentabilida- de, da tecnologia, da Inteligência Artificial, do contexto económico.34 EVENT POINT | GRANDE ENTREVISTA a sustentabilidade, na forma de relatórios de sustentabilidade de CO 2 no final dos eventos, reportes variados sobre várias situações. Do meu ponto de vista, o que aumentou foi muito a complexidade das formas de trabalho. É óbvio que isto inter- fere depois na relação cliente-a- gência, porque já não é uma coisa tão linear, ou seja, é pre- ciso ter equipas grandes por trás para conseguir atingir determinados resultados. E, portanto, por isso digo que é um relacionamento muito mais dinâmico. Há muitos anos, o número de interlocutores que nós tínhamos no evento era meia dúzia, hoje, se for preciso, nós trabalhamos com 30, 40 interlocutores de diferentes áreas, tudo ao mesmo tempo, porque assim o exige. E a com- plexidade, para mim, é que alte- rou muito esta dinâmica da forma de trabalhar em eventos. É porque nos eventos, cada vez mais, as audiências procuram ligações emocionais, procuram experiências fora da caixa, procuram coisas mais inusita- das e mais originais, e, portan- to, os eventos têm vindo tam- bém, cada vez mais, a andar no limite, ou seja, cada vez puxa- -se mais um bocadinho, ver o que é que pode ser diferente, o que é que pode ser mais origi- nal, o que é que pode ser inusi- tado. E isso tem o lado bom que tem puxado mais os eventos para coisas giras, efetivamente. Acho que, tendo em conta tam- bém o nosso país, temos conse- guido fazer coisas muito engra- çadas e diria mesmo que, para mim, somos uma referência em termos de eventos. Mas, por outro lado, também se tornam cada vez mais complexos. E, portanto, esta dinâmica com os clientes é uma dinâmica com- plexa no sentido em que já não há só um cliente, não há um ponto de contacto dentro da mesma empresa, há vários pontos de contacto, e, portanto, há aqui uma vicissitude de pontos que faz com que, hoje em dia, o gestor de eventos tenha de ser alguém muito completo, não é só uma pessoa que seja boa a organizar servi- ços, tem de ser muito mais além disso. Cada vez mais, as au- diências procuram liga- ções emocionais, procu- ram experiências fora da caixa, procuram coisas mais inusitadas e mais originais35 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 As vantagens de pertencer à 27Names Como é que se mantém atualiza- do? Há tempo para isso? Nunca nos mantemos atualiza- dos no sentido de sabermos tudo. No nosso caso, temos uma vantagem, pertencemos à 27Names e isso permite-nos perceber como é que os outros países fazem, como é que os outros países, que têm contex- tos completamente diferentes do nosso, em termos de socie- dade, em termos de políticas, como é que ultrapassam deter- minados problemas. Esta parti- lha dá-nos, de facto, uma gran- de vantagem em termos de Know-how. Isso é um ponto. Por outro lado, uma agência como a nossa, que já tem 36 anos de mercado, faz com que muitos suppliers venham ter connosco para apresentar solu- ções. Portanto, também acaba- mos por receber muita informa- ção do mercado, e isso também é importante. E depois, para mim, o mais fundamental é estarmos na rua, estarmos a falar com fornecedores, com hotéis, estarmos a ir a espaços, porque há sempre qualquer coisa gira que aconteceu, há sempre coisas que se podem explorar e, portanto, acho que a melhor maneira de estarmos atualizados nos eventos é ser- mos uma esponja. Estarmos sempre a receber informação de todos os lados e validarmos depois o que é que nos interessa. 36 EVENT POINT | GRANDE ENTREVISTA Pegando nesse gancho da 27Names, como é que surge essa oportunidade? Essa oportunidade surgiu por- que, penso que em 2012, con- corremos pela primeira vez aos prémios EUBEA [atualmente BEA World). Na altura, concor- remos quase por acaso, os prémios estavam a começar a ter alguma relevância e achei que devíamos participar. E ganhamos o primeiro prémio com uma ação de team building para a Coca-Cola. Fomos abor- dados, na altura, por esta socie- dade, que ainda estava muito no início, e perguntaram-nos, ‘nós estamos aqui a formar uma espécie de clube de agên- cias, não têm interesse em juntar-se a nós?’ Fizemos uma apresentação ao board, fomos admitidos e desde então temos estado na rede. A grande mais- -valia tem sido a troca de co- nhecimento, porque estamos a falar de agências que trabalham só na área de eventos, umas maiores, outras mais pequenas, obviamente. Tem a ver muito com a escala de cada país. Tem sido uma experiência bastante gratificante, não se trata apenas da relação comercial de parti- lharmos clientes ou trazermos negócio, é o próprio know-how de percebermos como é que nos outros países as coisas acontecem, tirarmos o melhor da experiência de cada um, partilharmos casos, fornecedo- res, ou seja, há muito essa parte de conhecimento e é o que mais valorizo. Notam-se, de facto, diferenças de mentalidade, de abordagem aos eventos, consoante os mercados? Notam-se, de facto, muitas diferenças. Vou dar um exem- plo muito claro: o mercado da Hungria. Neste momento, a Hungria tem um mercado na área de eventos que acaba por ser um mercado tipo ditadura, ou seja, trabalhas com as em- presas do Estado ou não conse- gues trabalhar. E, portanto, enquanto nós estamos aqui no nosso cantinho, há países que estão a debater-se com dificul- dades muito concretas devido a políticas externas, devido à situação que se está a viver com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Em todos os países que estão perto dessa fronteira, é fácil imaginarmos o que é organizar eventos neste mo- mento. Temos uma agência ucraniana na rede e eles traba- lham fora da Ucrânia na maio- ria das vezes e têm um bunker onde organizam eventos. Por 37 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 outro lado, temos a escala, chegas a Paris e tens os Jogos Olímpicos, ou eventos que são muito grandes e que nós não temos, infelizmente, nem capa- cidade de instalações para acolher esse tipo de eventos, nem temos essa capacidade financeira, nem capacidade a nível dos serviços. Já que estamos a falar de grandes eventos, consegue identificar o primeiro grande evento em que tenha sentido que marcou ali uma mudança? Que havia um antes e um depois desse evento? O lançamento da Emirates em Portugal. Para nós, marcou um bocado a diferença e foi um virar de página em alguns aspe- tos. Mas temos feito outros eventos, muitas vezes eventos 38 EVENT POINT | GRANDE ENTREVISTA que nem podemos divulgar e que têm marcado muito a dife- rença também para nós. Sobre- tudo, o que me dá mais prazer é perceber que trabalhamos com muitos clientes, alguns há mais de 20 anos, e que conse- guimos entregar. Os clientes veem capacidade de entrega e de execução e dão-nos a con- fiança de continuarmos a fazer [os eventos] durante vários anos seguidos e acho que este tipo de resultado é o mais im- portante. Ouvir do lado do cliente dizer que ‘o evento foi fantástico e agora o que é que vão fazer no próximo?’, é um motivo de angústia? É como o escritor olhar para a folha em branco? Acho que não é um motivo de angústia e também digo que um bom evento não necessita ne- cessariamente de ser cada vez mais wow, às vezes, há coisas simples que são wow também. Aliás, diria que as ideias mais simples até são aquelas que têm mais resultados. Os even- tos tornaram-se, obviamente, cada vez mais desafiantes em termos da complexidade da organização e, sobretudo, em termos do tempo. E isso é uma das diferenças que noto bastan- te com os outros países da rede, que o tempo com que nós executamos eventos em Portu- gal é incrivelmente mais rápido do que o tempo em que os outros países executam os eventos. Um exemplo simples, uma conferência, a maioria das outras agências começam a fechar espaços às vezes com um ano de distância, nós mui- tas vezes fechamos o espaço um mês antes e o evento acon- tece. Portanto, esse planeamen- to, esse modo de trabalhar é diferente e isso ainda torna as coisas mais complexas. Um bom evento não ne- cessita necessariamen- te de ser cada vez mais wow, às vezes há coisas simples que são wow também39 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 Depois da pandemia, uma das coisas que temos notado, como observadores, é que, de facto, os eventos que, tradicionalmente à menor crise, à menor incerteza, eram muito afetados, têm mostra- do uma enorme vitalidade. Sendo uma pessoa que, ainda por cima, vem da área da psicologia, o que é que os eventos têm que ajudam a passar uma mensagem, a criar relação? Os eventos têm uma coisa que se foi percebendo ao longo do tempo, que mudou um bocado o paradigma da comunicação, ou seja, há muitos anos havia comunicação above e below the line, e tudo passava pelo above, era a televisão, era a imprensa, etc. e depois os eventos esta- vam cá no fim da cauda, e era a execução no terreno, e era aquilo que as agências de above, e eu passei por agências de above, não queriam fazer. Essa balança mudou radical- mente. E mudou porquê? Por- que as pessoas cada vez come- çaram a querer ter mais liga- ções com as marcas, a criar momentos emocionais com as marcas, e um anúncio não permitia isso. E com o advento das redes sociais, o que se passou é que as pessoas come- çaram a ligar-se, quase de forma instantânea, às marcas e à maneira como elas comuni- cam. E os eventos foram ga- nhando terreno nesse campo. Se pensarmos nos festivais de verão, por exemplo, já não existe para mim o conceito de festivais de verão, agora exis- tem festivais o ano inteiro e muitos festivais são para nichos e são muito específicos e já são desenhados só para aquele nicho e só para aquele merca- do. Portanto, o que mudou muito foram as formas de con- sumo, o consumidor mudou bastante ao longo deste tempo, tornou-se muito mais owner das marcas. De certa maneira, é um pequeno acionista sem ter ações, porque pode tornar uma marca vencedora no mercado, mas também pode destrui-la. Os eventos nesse meio cresce- ram. São feitos de pessoas para Next >