< Previous50 EVENT POINT | PANORAMA quase subliminar, criando uma ligação emocional com o con- teúdo do evento”. E como os participantes “pro- curam cada vez mais experiên- cias que os surpreendam e estimulem os sentidos”, a Mul- tishow tem investido em solu- ções audiovisuais que, para além da sua função, acrescen- tem “camadas de experiência sensorial, transformando even- tos comuns em momentos verdadeiramente extraordiná- rios”. Também Nunes de Sousa, CEO da Audinova, empresa de servi- ços audiovisuais, defende que os meios audiovisuais “são, num evento, um dos investi- mentos mais importantes que o promotor pode e deve realizar, pois são eles que caracterizam, dão força e alavancam o espetá- culo, o concerto, a entrega de prémios, o lançamento de pro- duto…”. Particularmente o áudio e a iluminação “impactam de so- bremaneira na força da iniciati- va, ao poderem criar um fortís- simo impacto na perceção espa- cial e na grandiosidade do evento, sobretudo quando são previamente elaborados dese- nhos de luz e projetos de som capazes e competentes, e, não menos importante, operados por técnicos qualificados e experientes, que assimilam bem o ‘espírito’ da ação”, acres- centa. A IA ajuda fabricantes e técnicos “a ir mais além” De acordo com Orlando Vedor, as tendências na iluminação e no som apontam hoje “para um equilíbrio entre inovação técni- ca e elegância visual”. No capí- tulo da iluminação, “a grande revolução tem sido a utilização de equipamentos sem fios, que nos libertam das limitações dos cabos e permitem criar cená- rios mais limpos e adaptáveis”. Relativamente ao som, “a pala-51 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 vra de ordem é ‘invisibilidade poderosa’ – sistemas cada vez mais compactos, mas com uma qualidade e potência impressio- nantes. Esta abordagem res- ponde à crescente valorização da estética minimalista, sem nunca comprometer a expe- riência sonora”. A integração inteligente entre diferentes sistemas é um “aspe- to particularmente entusias- mante”, refere o responsável da Multishow, que tem desenvolvi- do soluções “que permitem sincronizar iluminação, som e vídeo, criando ambientes com- pletamente personalizados que respondem em tempo real às necessidades do evento”. Segundo Nunes de Sousa, “hoje começamos a levar aos clientes o conceito de áudio ‘surround’ para eventos mais imersivos e inovadores, acompanhado com uma iluminação também mais imersiva, potente, mais diversi- ficada, colorida e intensa e, por vezes, suspensa com sistemas elétricos que permitem movi- © Multishow52 EVENT POINT | PANORAMA mentar os equipamentos na vertical e na horizontal a veloci- dade variável, tornando os efeitos ainda mais intrusivos e dinâmicos”. E aqui também, adianta o CEO da Audinova, a Inteligência Artificial (IA) está a ajudar fabricantes e técnicos “a ir mais além”: os primeiros, fazendo com que coloquem no mercado “novos equipamentos de con- trolo, mais eficientes, mais rápidos, mais automáticos e que ‘apreendem’”; os segundos, proporcionando “a antecipação das novas programações”, sugerindo “em real time novas possibilidades e efeitos”, e ajudando “a criar novas lógicas de automação e de produção de novos efeitos, sequências e automatismos”. Também Orlando Vedor vê a IA como uma ferramenta que está “a revolucionar a forma como concebemos e operamos os sistemas audiovisuais”, pelo que a Multishow já está a de- senvolver soluções para tornar os eventos “mais dinâmicos e personalizados”. © Audinova53 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 “Uma das aplicações mais práticas é a capacidade de análise e adaptação em tempo real. Imaginemos um sistema de som que deteta automatica- mente as características acústi- cas do espaço e se ajusta para oferecer a melhor experiência sonora, ou iluminação que responde às alterações na luz natural ao longo do dia. Esta ‘inteligência’ permite-nos ofere- cer uma qualidade consistente, independentemente das variá- veis do ambiente”, explica. Mas há mais, continua, refor- çando que “o potencial vai além da otimização técnica”. “Esta- mos a desenvolver sistemas que conseguem ‘ler’ o ambiente emocional do evento – através de sensores de movimento, análise de som ambiente ou mesmo reconhecimento de padrões de comportamento – adaptando a iluminação e o som para amplificar momentos- -chave ou criar transições sub- tis entre diferentes fases do evento.” “É fascinante ver como a tecno- logia nos permite criar expe- riências cada vez mais intuiti- vas e envolventes”, frisa. Estamos a desenvolver sistemas que conse- guem ‘ler’ o ambiente emocional do evento – através de sensores de movimento, análise de som ambiente ou mes- mo reconhecimento de padrões de comporta- mento – adaptando a iluminação e o som para amplificar momentos- -chave © Audinova54 EVENT POINT | PANORAMA A sustentabilidade já não é uma opção – é um “imperativo” no setor A sustentabilidade é hoje, em todas as vertentes, um dos aspetos prioritários de ação. Também nas áreas da ilumina- ção e do som. Nunes de Sousa sublinha que tudo é hoje “ope- rado com equipamentos mais eficientes, menos consumistas de energia, mais leves, mais rápidos e fabricados com maté- rias-primas mais biodegradá- veis e recicláveis”. Orlando Vedor complementa que “a sustentabilidade deixou de ser uma opção para se tor- nar um imperativo no setor dos eventos” e que “esta consciên- cia” tem orientado o investi- mento da empresa “em equipa- mentos e práticas mais respon- sáveis”, como os LEDs alimen- tados por bateria (que reduzem o consumo energético, simplifi- cam a logística e reduzem o impacto ambiental das monta- gens e desmontagens) ou equi- pamentos de som com menor consumo, sem comprometer a qualidade acústica. “Esta abordagem reflete o nosso compromisso em encon- trar soluções que aliem eficiên- cia técnica, qualidade irre- preensível e responsabilidade ambiental”; um esforço que tem sido reconhecido pelos clientes, que estão “cada vez mais aten- tos às práticas sustentáveis dos seus fornecedores”, rumo a um “futuro mais verde” na indús- tria dos eventos. © Multishow56 EVENT POINT | PERSPETIVAS Katja Tschimmel PERSPETIVAS Fundadora da Mindshake, Consultora em Criatividade e Inovação, e Embaixadora Portuguesa da World Crea- tivity and Innovation Week57 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 Do desperdício à inovação: Criar eventos sustentáveis Para mim, é impossível ignorar a quan- tidade de copos e garrafas de plástico descartados. O consumo massivo de eletricidade, como nos concertos, tam- bém é evidente. Não há dúvida: a indús- tria de eventos tem um impacto ambien- tal significativo, desde o desperdício até à sua pegada de carbono. Mas o que tem isto a ver com criativida- de e inovação? Muito. Os eventos são espaços férteis para a inovação e podem — e devem — ser motores de uma trans- formação sustentável. A grande questão é: como integrar a sustentabilidade sem comprometer a dimensão emocional e a qualidade da experiência vivida pelos participantes? A sustentabilidade não deve ser encarada apenas como uma obrigação, mas como uma oportunidade criativa. Pensar criativamente significa explorar diversas possibilidades e encontrar novas perspetivas para resolver proble- mas. Se aplicarmos este pensamento ao design de festivais e conferências, pode- mos adotar estratégias circulares. Não se trata apenas de reciclar ou reutilizar materiais e equipamento. Podemos ir mais longe: utilizar apenas recursos locais, minimizar o desperdício e repen- sar modelos de negócio, através de novas parcerias. Um exemplo inspirador é a estratégia do Loop, onde os eventos aproveitam os desperdícios de outras indústrias e, por sua vez, disponibilizam os seus resíduos como recursos para outros setores. Outra abordagem inova- dora é a utilização da gamificação e da tecnologia para sensibilizar e envolver o público. Suponho que já existem apps Quando foi a última vez que participou num grande evento — seja um festival, uma feira, uma conferência ou um jogo de futebol? E o que mais lhe chamou a atenção?58 EVENT POINT | PERSPETIVAS que permitem aos participantes medir a sua pegada ecológica durante o evento, incentivando comportamentos mais sustentáveis através de desafios diverti- dos e recompensas atrativas. Um evento sustentável não significa uma experiência menos cativante a nível emocional — pelo contrário, pode ser ainda mais memorável ao criar ligações autênticas com o público. A cenografia composta por elementos naturais, instalações interativas com materiais reutilizados ou espetáculos movidos a energias renováveis são exemplos de como elementos imersivos podem alinhar-se a princípios ecológi- cos. A gastronomia sustentável, desta- cando ingredientes locais e sazonais, enriquece a experiência sensorial dos participantes, enquanto a gamificação e pequenas escolhas conscientes aumen- tam o sentido de pertença e envolvi- mento do público.59 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 Não há limites na geração de ideias. O essencial é a intenção de mudar a in- dústria dos eventos - por parte dos organizadores, mas também do público. Neste contexto, um caso exemplar é o Boom Festival, que tem vindo a imple- mentar uma missão ambiciosa de autos- sustentabilidade, com um compromisso sério em não contaminar a natureza e em educar para a consciência ecológica. As práticas sustentáveis do Boom Festi- val incluem o uso de energias solar e eólica, o tratamento das águas do evento através de biotecnologias, sanitários ecológicos sem produtos químicos e uma organização espacial baseada nos princípios da Permacultura. Desde 2012, Um evento sustentável não significa uma experiência menos cativante a nível emocional — pelo contrário.Next >