< Previous70 EVENT POINT | EMPRESAS passado num evento, porque todos “têm a sua dose de comé- dia”. É que “trabalhar nesta área é viver entre o planeamen- to e o caos, onde as situações inesperadas fazem parte do espetáculo”. Afinal, há sempre imprevistos que acontecem: “um orador que continua a falar sem perce- ber que o microfone foi desliga- do; convidados a cumprimenta- rem desconhecidos como se fossem velhos amigos; casa- mentos onde a noiva trocou literalmente o futuro marido pelo padrinho; bolos de casa- mento desaparecidos antes do momento do corte...”. Para Célia Caldas, “há sempre um momento fora do guião e é exatamente isso que torna este mundo tão emocionante e apaixonante”. E quanto aos momentos em que as coisas não correram exatamente como o planeado, recorda um que “merece um Oscar do caos”: “Um evento espetacular, um grupo entu- siasmado e uma banda conhe- cida a atuar. Tudo perfeito... até que o teto da tenda cedeu e uma cascata de água caiu sobre a banda em plena atuação.” Célia Caldas conta que “o pâni- co foi imediato, mas, como nos eventos não há tempo para lamentações, em segundos a equipa correu para salvar os instrumentos e reorganizar o espetáculo. O verdadeiro espíri- to de ‘the show must go on’”, adianta. “Se houver paixão, tudo o resto se aprende!” O universo dos eventos é dinâ- mico e Célia Caldas acredita que “os eventos vão ser cada vez mais imersivos, tecnológi- cos e sustentáveis”. “O digital está a transformar a experiên- cia, mas nunca substituirá a magia do presencial. Acredito que o futuro será mais autênti- co, com menos show-off e mais impacto real. Eventos que não são apenas vistos, mas senti- dos”, explica. Às novas gerações que estão a entrar na indústria dos eventos, Célia Caldas deixa o conselho: “Acima de tudo, apaixonem-se pelo que fazem. Se houver pai- xão, tudo o resto se aprende!”71 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 Diogo Pereira VIDA DE EVENTOS O futuro dos eventos é extremamente promissor © Inês Maria Duque72 EVENT POINT | EMPRESAS “Desde sempre soube que esta era a minha paixão”, afirma Diogo Pereira, que, ainda na escola, aproveitava qual- quer oportunidade para organizar vários momentos, como festas de turma, tor- neios de futebol interturmas e até o baile de gala, “que era o epítome dos eventos do Secundário”. Diogo Pereira conta que sempre gostou de estar envolvido nestas atividades, mas este “percurso alucinante no mundo dos eventos” só foi realmente iniciado em 2019. “Depois de diferentes experiências profissionais que me per- mitiram adquirir uma série de compe- tências e moldaram o profissional que sou hoje, decidi fazer formação na área da aeronáutica. E foi nessa altura que surgiu a oportunidade na área profissio- nalizada dos eventos. Decidi aceitar o desafio e percebi que finalmente tinha encontrado a área profissional onde realmente me sinto realizado”, refere. Gestor de logística e eventos da Agência Espacial Portuguesa, Diogo Pereira soube, desde novo, que era nesta área que queria estar. TEXTO: Maria João Leite73 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 Diz que pode “parecer um clichê”, mas indica que o que mais o fascina na in- dústria dos eventos é “a imprevisibilida- de e a energia que cada novo dia oferece de bandeja”. É que “nenhum projeto é igual ao outro, e cada desafio exige soluções criativas e inovadoras. A diver- sidade de clientes e as suas expectativas obrigam-nos a estar sempre um passo à frente, a reinventar estratégias e a en- contrar abordagens únicas para cada situação.” Além disso, acrescenta, “é um setor que exige atualização constante, acompa- nhando tendências, novas tecnologias e metodologias emergentes. Esta necessi- dade de evolução contínua torna o tra- balho sempre estimulante e reforça, a cada experiência, a minha paixão por este mundo dinâmico e em constante mutação”. Contudo, considera que “o setor ainda arrisca pouco”. “Replicam-se modelos já testados e comprovadamente eficazes, resultando em eventos que, apesar de cada vez mais numerosos, acabam por parecer variações do mesmo formato. Vemos uma proliferação de ‘summits’ e conceitos semelhantes, sem grandes inovações na estrutura”, comenta. “Falta-nos explorar a criatividade de forma ousada, pensar além do conven- cional e criar experiências verdadeira- mente diferenciadoras.” Entende que, “mesmo que isso traga desafios adicio- nais no início, são essas ruturas que impulsionam a evolução e tornam cada evento único e memorável”. “Foram dias intensos, repletos de desafios, mas também de aprendizagens valiosas” Dos vários eventos do seu percurso, Diogo Pereira destaca a sua primeira conferência com as Nações Unidas, “uma experiência marcante e desafiado- ra, que exigiu um nível de rigor e dedi- cação inigualáveis”. “A organização de um evento desta magnitude exigiu uma atenção minucio- sa a cada detalhe, desde a logística e o protocolo até à coordenação entre dife- rentes equipas e entidades internacio- nais. A fasquia era elevadíssima, assim como as expectativas de todos os envol- vidos, tornando essencial a capacidade de gestão de tempo, tomada de decisões sob pressão e adaptação a imprevistos.” Diogo Pereira conta que “foram dias intensos, repletos de desafios, mas também de aprendizagens valiosas”. E realça a oportunidade que teve de traba- lhar com “profissionais altamente quali- ficados”, de absorver “conhecimento” e de aperfeiçoar “competências essen- ciais” para evoluir no setor.74 EVENT POINT | EMPRESAS “Esta experiência não só conso- lidou a minha paixão pela orga- nização de eventos como tam- bém me permitiu crescer en- quanto profissional, tornando- -me mais resiliente, estratégico e preparado para enfrentar projetos de grande complexida- de”, sublinha. Dos momentos mais hilariantes recorda-se de um desafio que propôs a uma fotógrafa: que acompanhasse um operador de câmara numa viagem de heli- cóptero, mas que seria “um pouco mais ‘turbulenta’” do que o normal. “Ela aceitou sem hesitar, acho que sem se aper- ceber do tipo de viagem em que se estava a meter. Quando a vi aterrar, tive a certeza de que se tinha arrependido assim que levantou voo. Com um olhar mordaz e certamente com vontade de me chamar uns quantos nomes, disse-me que nunca mais ia na minha con- versa”, conta. E como são normais os mo- mentos em que as coisas não saem como estão planeadas, Diogo Pereira lembra o primei- ro dia de um festival em que milhares de pessoas aguarda- vam o início de um concerto de um famoso grupo português. O problema surge quando se ouve no rádio: “Malta, temos de começar a pensar numa solu- ção, porque a mesa de mistura não arranca”. Depois de uns minutos de im- passe, foi feito um esclareci- mento “para acalmar os âni- mos”. Mas, “num rasgo de sorte, a mesa lá arranca e con- seguimos dar início ao concer- to, evitando aquilo que poderia ter sido o início do fim do festi- val”. A evolução dos eventos “será impulsionada pela tecnologia” Olhando para o futuro da in- dústria, Diogo Pereira acredita que, nos próximos anos, a evolução dos eventos “será impulsionada pela tecnologia”. “A realidade aumentada e a realidade virtual, apoiadas por soluções de Inteligência Artifi- cial transformarão a forma como vivemos os eventos, tor- nando-os mais interativos e imersivos. Vamos, assim, con- seguir alcançar níveis de perso- nalização cada vez mais avan- çados, dando resposta às ex- pectativas dos participantes que 75 ABRIL | MAIO | JUNHO 2025 procuram cada vez mais expe- riências adaptadas às suas preferências”, explica. Considera também que, “a sustentabilidade continuará a ser uma prioridade, com os profissionais da área cada vez mais empenhados em adotar práticas responsáveis e em explorar soluções inovadoras que contribuam para eventos mais conscientes e sustentá- veis”. Além disso, adianta, “o desejo crescente das marcas de esta- belecer uma ligação mais próxi- ma e genuína com os seus consumidores reforça o papel dos eventos como instrumentos para criar experiências únicas fortalecendo o relacionamento entre marca e público. O futuro dos eventos é, certamente, extremamente promissor”. Às novas gerações da indústria, Diogo Pereira diz para serem “curiosas” e que “estejam dis- postas a aprender e a desafiar- -se constantemente”. “A indús- tria dos eventos está em cons- tante evolução, e é importante estar sempre atento às mudan- ças, às novas tendências e às novas tecnologias. Não tenham medo de experimentar ideias e abordagens diferentes, mesmo que isso signifique sair da zona de conforto”, frisa. E deixa ainda outros conselhos. “Façam por desenvolver tam- bém uma boa capacidade de gestão de crise, porque impre- vistos acontecem e é preciso saber lidar com eles eficiente- mente. O trabalho de equipa é fundamental, portanto cultivem boas relações profissionais e aprendam com os outros. Por fim, lembrem-se de que a pai- xão pelo que fazem é o que os vai motivar a continuar, mesmo nos momentos mais desafian- tes”, remata.76 EVENT POINT | PERSPETIVAS Renata Amaral PERSPETIVAS * “O propósito não é mais suficiente. Precisamos de um propósito que faça sentido e que ressoe com os outros.” Seth Godin O Propósito não é mais suficiente* Que fazia ali? Nem tanto tempo depois, o conceito, o propósito e outros que tais - a intenção também se usa - enformam o léxico banalizado de todos (ou quase) os que por aqui andamos. A minha passagem longínqua - intermi- tente também - pela arquitectura con- verteu-se em palimpsesto, sobre o qual repousam os pressupostos do que lhe sucedeu. E nesse tempo da arquitectura que não chegou a ser, no Convento de São Francisco, o adulto na sala fala do projecto que nasce e ganha forma em volta de uma singela árvore. Considerei entender no gesto a homenagem ao ser árvore, belo, palpi- tante e orgânico. Desenganei-me. No final o arquitecto mata a árvore, fá-la sumir-se. Um director atirou assim, como que para o ar, que ao cliente não importavam conceitos, só resultados, palpáveis entenda-se. Neste compasso, atravessaram-me ignomínias e outros tantos indizíveis, que no final me deixaram sem pé. Escreve segundo o antigo acordo Ortográfico77 ABRIL | MAIO | JUNHO 202578 EVENT POINT | PERSPETIVAS No movimento do tempo, regresso a esta história aqui e ali. A coerência formal do que se desenvol- ve em volta da árvore sustenta-se para além desta, na medida em que o projec- to seja capaz de estabelecer uma identi- dade própria. A retirada da árvore nada mais repre- senta do que o reconhecimento da im- portância da intenção no processo cria- tivo. Convertida tornei-me crente, depois activista. Interessam-me os conceitos que decorrem de um propósito (motiva- ção de fundo e mais amplo), ou de uma intenção (que apoia o propósito e foca a ação). Nem mais. Sendo tempo de uma pretensa maiori- dade… Cresceu o ressoar. A ideia de um pro- pósito que, “tangibilizado” em conceito, é capaz de se conectar emocionalmente com o seu público, gerando identifica- ção e reconhecimento. Chegar lá é como um dia de verão daqueles, uma vitória que se sente antes de se saber, um “na mouche” que transborda inspirado. Para dizer a verdade é o ressoar que me salva: digo-me que há algo de bom no que fazemos, que participamos e contribuímos para esta movida do ser interior e social que somos e que passa por trabalhar mensagens que são maio- res do que as marcas: Ele há marcas que são maiores porque feitas de pessoas que são grandes e admiráveis. Grata, tanto tanto tempo depois.We know the feeling. That’s why we offer a place for you to tackle your challenges and dive into the world of events, meetings and incentives in just a couple of days. themeetingsshow.com/register EXCEL LONDON 25-26 JUNE 2025 FEELING A LITTLE OVERWHELMED? It’s amazing what you can achieve when you #TakeTheTime Take the time to save timeNext >