Elling Hamso: “Vamos parar de dizer turismo de negócios”

19-12-2019

A Event Point esteve à conversa com o Managing partner do Event ROI Institute, em Braga.

Qual é a importância de envolver os políticos nesta conversa global sobre a meetings industry?

Acho que é importante porque há esta ferramenta poderosa de desenvolvimento regional, disponível para eles começarem a usar. É uma tragédia se não cumprirmos o nosso dever, enquanto indústria, de lhes dizer que esta ferramenta existe. Existe, está pronta, só precisam de pegar nela e dar‑lhe uso e criar os seus clusters, os hubs de conhecimento, desenvolver as suas indústrias, os destinos, as cidades, para comércio, o emprego, a justiça social e o bem‑estar das pessoas. Parece‑me que a maior parte dos políticos ainda não está a par do poder dos eventos para este propósitos. Isto é algo que me apaixona neste tópico: estamos sentados em cima de um grande segredo e é o nosso dever contar‑lhes.

Que tipo de argumentos podem ser usados? Eles continuam a ver os eventos apenas como turismo?

Sim, porque foi o que lhes dissemos durante uma série de anos. Portanto não podemos culpá‑los. Chamamos a área de turismo de negócios e isto não tem nada a ver com turismo. Vamos parar de dizer turismo de negócios. Porque turismo é apenas uma pequena ferramenta na caixa de ferramentas. Temos de lhes falar das outras. Portanto não podemos culpar os políticos por não verem o potencial, temos de tomar para nós essa responsabilidade. Talvez devamos tomar um pouco do nosso remédio, porque como profissionais de comunicação sabemos que os argumentos não são muito eficazes, temos de criar uma história, uma história poderosa, e um exemplo poderoso e trazê‑los para cenários em que não lhes contamos, mas levamo‑los numa viagem de descoberta, envolvendo‑os em conversas. Outra área pela qual me interesso é a da aprendizagem. Como é que as pessoas aprendem? E a ciência sabe há muito tempo que as pessoas não aprendem através da informação que lhes é ‘atirada’. As pessoas aprendem sendo levadas numa jornada de exploração e de descoberta. É a diferença entre aprendizagem indutiva ou dedutiva. A estratégia, então, não deve ser dar‑lhes informação e argumentos, mas levá‑los numa jornada de auto‑descoberta. Simplesmente porque é uma maneira poderosa de aprender e temos de despertar as suas emoções, para eles desenvolverem a sua própria história, os próprios exemplos, e assim aprenderão mais depressa e passarão a usar esta ferramenta de desenvolvimento regional mais depressa e de forma efetiva.

Consegue dar‑nos um exemplo de cidades ou regiões que o entusiasmem?

Diria que um dos exemplos mais poderosos é a cidade de Sidney. Mas há outros. Se calhar levar os vossos políticos a visitarem as cidades com mais sucesso nesta área e ouvirem as suas historias, talvez resultasse.

Por outro lado, há uma série de eventos não tão bem organizados, que às vezes são verdadeiras perdas de tempo. Pode dar duas ou três dicas de como se pode melhorar a qualidade dos eventos de uma forma geral?

Primeira: estudem a parte cognitiva da aprendizagem, e percebam a diferença entre aprendizagem indutiva e dedutiva. Toda a nossa tradição, é de alguma maneira a forma intuitiva de ensinarmos, é dedutiva. Noutras palavras, temos um especialista à frente de pessoas, a dar‑lhes as repostas certas, a mostrar exemplos, a dar um exercício para ter a certeza que o assunto foi compreendido… isto não funciona! A aprendizagem dedutiva: dar uma premissa, um desafio, uma tarefa, e levar as pessoas numa jornada guiada, com interação, discussão e descoberta, e eles vão chegar às mesmas respostas e nunca as vão esquecer. A segunda coisa é que sabemos, e particularmente agora na economia digital, que uma das mais poderosas vertentes das reuniões é o networking entre os presentes. Então como é que podemos ter tão pouco talento para não desenhar a parte mais importante das reuniões? Como é que não criamos condições para que as pessoas que realmente querem conhecer outras pessoas o possam fazer? Como é que podemos esperar que as pessoas conheçam pessoas interessantes durante o coffee‑break? Temos de ser mais inteligentes. Temos de envolver mais a ciência comportamental nos nossos esforços de tornar as reuniões, os eventos, mais eficazes.

Acredita que seria necessário envolver nos eventos consultores noutras áreas mais comportamentais?

Temos de distinguir o que é um meeting planner, que trata da gestão do projeto, da logística, do meeting designer, que é algo completamente diferente, para desenvolver as experiências de aprendizagem nos eventos.