“O mundo está a mudar” e o protocolo “adapta-se” aos novos tempos

Reportagem

03-11-2023

# tags: Protocolo , APOREP , Associações , Jornada Mundial da Juventude

A Event Point falou com três dos oradores das XVIII Jornadas Internacionais de Protocolo (JIP), marcadas para 7 de novembro. A necessidade de o protocolo se adaptar à atualidade e às circunstâncias de alguns eventos foi um denominador comum nas ideias partilhadas.

Com o tema “Protocolo: uma ponte entre culturas, política, religiões e eventos”, a edição deste ano das JIP da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo (APOREP) vai abordar alguns dos momentos protocolares mais importantes de 2023, nomeadamente a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Um dos convidados internacionais destas JIP é Ramón Peche Villaverde, presidente da AEP – Associação Espanhola de Protocolo, que considera que “o mundo está a mudar e os parâmetros com que analisamos questões como a saúde, a economia, a cultura e o turismo estão a adaptar-se a novas situações socioeconómicas globais que nos afetam a todos”.

Segundo Ramón Peche Villaverde, o vasto campo “profissional, laboral e económico do protocolo e da organização de atos e eventos teve de se adaptar a este novo cenário”, embora, sublinha, “este tipo de adaptação nos tenha acompanhado como parte da história do próprio protocolo, uma disciplina, matéria e atividade em constante evolução”.

O presidente da Associação Espanhola de Protocolo considera que os profissionais e as empresas que trabalham na área do protocolo “souberam adaptar-se perfeitamente às novas situações, modificando não só as infra-estruturas ou os recursos envolvidos na organização de um evento, mas também a forma como abordamos o próprio evento, mesmo antes de o começarmos a conceber”.

Pandemia “reforçou” a área do protocolo

Para o orador das próximas JIP, os profissionais do protocolo têm hoje “um espírito mais aberto, mais preparado para receber ou assumir exigências relacionadas com a segurança, a saúde e os aspectos preventivos, a acessibilidade do evento e as suas repercussões ambientais”. “Que antes não tínhamos em conta e que agora priorizamos e colocamos na linha da frente da nossa atenção e ação”, sublinha.

A pandemia de covid-19 veio “reforçar” a área do protocolo, na opinião de Ramón Peche Villaverde, ao “alargar a cobertura, públicos, destinatários e conteúdos”, resultando numa “bagagem inegável de ações virtuais”. “E permitiram que muitos eventos se configurassem como híbridos, perdendo o seu anterior perfil exclusivamente presencial, para ganharem projeção e repercussão”, acrescenta.

O líder da Associação Espanhola de Protocolo encara o futuro do protocolo com “otimismo”, mas reforça a necessidade “cada vez mais premente de ações conjuntas que resultem na consolidação definitiva do setor e que reúnam, ao mesmo nível de trabalho e de compromisso, profissionais, associações, administrações e entidades privadas”. “Este é, mais uma vez, o desafio”, afirma.

Nesta edição das JIP, Ramón Peche Villaverde irá levar a discussão o tema “O Protocolo autárquico como uma ponte para o Protocolo global”, com o objetivo de passar a mensagem de que “o protocolo nas administrações municipais e locais é o protocolo mais próximo, aquele que tem lugar nas nossas cidades, vilas, municípios e câmaras municipais e é o que mais afecta as nossas relações, as nossas necessidades e as nossas vidas”.

Na apresentação, tentará “sublinhar o poder do protocolo como instrumento de comunicação e de transmissão de valores”, por considerar que “o protocolo local atua como uma ponte e um caminho para o protocolo global”.

“Do local transcendemos para o global, para aquilo que nos afeta como espécie e como herdeiros da cultura e da civilização, no respeito pela diversidade, pelo multiculturalismo, pela liberdade de pensamento, de credo e de ideologia, a partir de um compromisso comum e também global para com as gerações futuras de manter este mundo e o seu património, riqueza natural e social”, conclui Ramón Peche Villaverde.

O principal desafio de um profissional desta área é saber acomodar as regras”

“Protocolo desportivo – 3/2/1 ou 1/2/3?” será o tema que José Manuel Araújo, secretário-geral do COP – Comité Olímpico de Portugal, levará às JIP. Considerando que “o protocolo desportivo, como a maioria dos tipos de protocolo que conhecemos, tem muita prática e pouca doutrina”, o orador explica que com este tema pretende “alertar para a compatibilização de regras protocolares de entidades distintas (oficiais e não oficiais), o que tem efeitos nos mais diversos momentos do evento desportivo”.

Questionado sobre os principais desafios enfrentados pelo protocolo e pelos seus profissionais na atualidade, José Manuel Araújo afirma que “o protocolo é visto, muitas vezes, como obstáculo à vontade de cada um em poder assistir a uma cerimónia da forma que entende, embora as pessoas respeitem as formalidades do mesmo”.

Para o secretário-geral do Comité Olímpico de Portugal, “o principal desafio de um profissional desta área é saber acomodar as regras que tem de seguir com a capacidade de explicar a cada pessoa – de forma clara e assertiva - as motivações das regras seguidas em cada momento”.

JMJ obrigou protocolo a adaptar-se às restrições de segurança e vice-versa

O coronel Jorge Barradas, coordenador da equipa de segurança e proteção civil da JMJ e Chefe de Gabinete do Comandante-Geral da GNR, também estará presente como orador nas XVIII JIP, com o tema “Protocolo e segurança – JMJ 2023”.

À Event Point, explica que “protocolo e segurança são duas áreas temáticas que são interdependentes, sobretudo na realização de grandes eventos, pelo que necessitam de estreita colaboração entre si”.

“A JMJ Lisboa 2023 foi a prova disso, por se tratar do maior evento alguma vez realizado em Portugal, houve a necessidade de adaptar processos de segurança em função do protocolo, assim como houve necessidade de adaptar questões protocolares, em função de restrições de segurança. O conjunto alargado de públicos-alvo sujeitos a protocolo e atento o objetivo do evento, face a restrições de tempo e espaço, obrigou à colaboração e à definição de critérios que integrassem: público e privado; Estado e Igreja; parceiros jovens ou portadores de deficiência”, adianta o coordenador da equipa de segurança e proteção civil do mega evento religioso realizado em Lisboa.

De acordo com o coronel Jorge Barradas, “a discussão que se pretende implementar é a da colaboração e do grau de envolvimento de cada uma das entidades/atores, com maiores ou menores responsabilidades no processo. Se por um lado será mais fácil discutir assuntos, alguns sensíveis, num grupo mais restrito, para chegar a conclusões e decisões mais rapidamente, por outro, podem deixar de ser considerados aspetos relevantes e que tenham de ser obrigatoriamente considerados, sobretudo de última hora, que impactam no planeamento”.

A tradição pode chocar com a inovação”

A propósito dos desafios enfrentados pelos profissionais do protocolo e pelo próprio protocolo no presente, o Chefe de Gabinete do Comandante-Geral da GNR usa o exemplo da JMJ Lisboa 2023, um cenário de grande “complexidade” cuja dimensão “obrigou a adaptação a uma realidade distinta até à presente data”. “Não apenas pelos números em causa, mas também pela variedade de atores, assim como de co-responsáveis na organização (igreja, Estado central e autarquias)”, sublinha.

O orador da próxima edição das JIP acrescenta que, “na generalidade dos desafios que se colocam à área do protocolo”, identifica dois dos principais: “a doutrina vigente e o grau de especialização, do ‘como fazer’”.

“Trata-se de uma área temática que exige profissionalismo, traduzido em conhecimento, regras e método, pelo que a ‘perceção social’ da sua relevância ou a introdução de ‘medidas inovadoras’, pelas mais diversas razões, introduz um risco adicional e potencia eventuais disfuncionalidades ou falhas protocolares (ou até de segurança), que podem impactar no sucesso ou no grau de organização de um determinado evento”, afirma o coronel Jorge Barradas.

Para o Chefe de Gabinete do Comandante-Geral da GNR, “a tradição pode chocar com a inovação, pelo que a adaptação aos novos tempos pode suscitar ‘formas de fazer’, diferenciadas e que requerem a intervenção de profissionais e especialistas (na verdadeira aceção da palavra e não apenas meros entusiastas)”.

Por outro lado, acrescenta, “a formação e o conhecimento acumulado, que se traduzem em experiência profissional, logo, na referida especialização, são por vezes negligenciados ou preteridos, levando a desconformidades ou omissões, que só se constatam tarde demais. Também na área do protocolo, um profissional de excelência tem custos e demora a atingir a sua plenitude profissional, pelo que a opção de facilitar no processo, porque se lhe atribui menor relevância, será sempre (se disso tiver consciência quem decide), o assumir de uma razão de custo-benefício”.

As XVIII JIP - Jornadas Internacionais de Protocolo realizam-se a 7 de novembro no Auditório CGD do ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa. O programa do evento, do qual a Event Point é media partner, pode ser conhecido aqui.